17.5.05

:: fez-se Muuuuuuuuuuuuuuuu

agora o medo fica à porta do avião. ou seja, entro em quase pânico quando me dizem para equipar e essa sensação prolonga-se durante toda a subida dentro do avião e até me abrirem a porta do mesmo e me dizerem: “francisco, lá pra fora!”.
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olho para o altímetro; 4000 pés, engulo em seco e tento respirar, mas em vão, pois o medo não deixa os pulmões se dilatarem como desejaria. o largador faz um gesto ao piloto com o polegar, passando-o sobre a garganta e que mais parece estar a dizer-lhe “vais morrer” mas que afinal é; corta o motor. depois gesticula para nós, saltadores, que vai abrir a porta.
no momento em que a porta se abre e em que o barulho do motor quase se funde com o som do vento que nos entra por todos os lados e que nos acorda e desperta para uma nova realidade, a de que vamos deixar para trás milhões de anos de evolução natural e que essa coisa de sermos bípedes e homoerectus não nos serve para coisíssima nenhuma, aí sim, entra o “Mu” – não medo”. A partir daqui não posso contar porque é indizível.

dei neste fds o meu 5º e 6º salto (4000 pés) ainda em abertura automática mas não por muito mais tempo pois o meu instrutor e o meu largador dizem que as minhas prestações estão muito boas e que para a próxima vez que lá for repito o salto de simulação real de punho e que depois põe-me logo a fazer queda livre. ao que eu respondi que não sabia se isso era verdade e que achava que não podia/não queria me separar da minha fita extractora (fita que faz abrir o pára-quedas automaticamente) pois achava que estava apaixonado por ela.

ainda por cima fartei-me de ver acidentes lá no aeródromo. nada de grave, tendo em conta que não se passaram comigo. estavam lá duas raparigas (senhoras engenheiras – Mr Brown ia gostar de vê-las cair) que estavam a fazer o ultimo salto do curso e uma delas saltou à minha frente. o pára-quedas não abriu como devia e em vez de se posicionar sobre a sua cabeça, como mandam as leis da gravidade, aquelas, do tipo da maçã, ficou à sua frente, ou seja, pára-quedas e srª engenheira os dois paralelos ao solo e por isso começou a descer a uma velocidade não muito aconselhável e num movimento rodopiante e pouco ortodoxo que é aquele que se descreve como o movimento parafuso. depois lá conseguiu recuperar a forma desejada da calote e estabilizou. como se isto não bastasse e por ter perdido altitude muito rapidamente a srª engenheira não conseguiu aterrar, nem pouco mais ou menos na zona que devia e foi assim parar a uns terrenos fora do aeródromo e em cima de arame farpado e por isso ainda esteve a fazer um bocado de ponto cruz para tirar o pano do arame. tiveram de ir busca-la de carro. é claro que eu não dei por nada disto pois estava a saltar depois dela mas quando cá cheguei a baixo ela contou. estava com um sorriso estranhamente sereno e com os olhos muito abertos (característica de quem acaba um salto) e contava a sua experiência como quem fala de culinária:
“-eu estava na minha cozinha a fazer uma receita de suflê e quando o retirei do forno estava murcho e eu pensei; isto não devia estar assim inchado e cheio e fofinho?! mas não...”
VERSÃO PARAQUEDISTA:
“-eu olhava para a frente e via a calote do pára-quedas e pensava; isto não devia estar lá em cima?!... eu bem que sentia aquilo (aquilo era ela mesma) a cair muito depressa mas... bem, depois a calote lá voltou para o seu lugar mas eu já tinha descido muito e estava já perto dos 1000 pés e o Lourenço mandou-me ir para o arame farpado (é obvio que a mandou dirigir-se para a zona da rede. Nunca para cima do arame farpado) e eu tive de ir buscar a calote lá acima... (contava isto e mostrava as pernas todas escoriadas).”
depois o nosso instrutor fez um “salto tandem” (o cliente salta acoplado ao paraquedista) com uma rapariga que lá apareceu e nós fomos ajudá-lo a aterrar e quando o homem chegou ao chão começou a se benzer e mais não sei o quê. dois alvéolos da calote não se tinham aberto e por isso a calote ia toda de ladecos.
bem, mas não vão ser estes percalços que me vão demover.
já tenho diploma e caderneta de saltos (a minha mãe tá tão orgulhosa!...) só me falta a tatoo: “ÉVORA 2005” e um emprego compatível com a modalidade.

fico a pensar que quando gostamos mesmo do que fazemos aplicamo-nos e progredimos. o mesmo já não posso dizer das matemáticas, dos números primos, das raízes dos catetos e dos quadrados das hipotenusas. não pesco nada de matemática. a propósito/despropósito de matemáticas e outros alinhamentos: o frederico nasceu às 4h (16) do dia 4 do mês 4 (abril) de 2002 (2+2=4)

fui terça feira passada ao Lotus e ia vomitando a pizza que tinha comido à hora de almoço e então parei de treinar, pois achei que aquilo era um desperdício de comida. hoje só como sopa e vou tentar a sorte outra vez.

ps#1: joão, não é uma carrinha nem é amarela. é um pacote de mostarda SAVORA.
ps#2: martriöska, eu sei que tu achas que eu não mereço, mas afinal do que é que trata o doc. d observação?
........ainda não percebi. será que ando a ler o blog demasiadamente na diagonal???
........a tua casa, ainda que minimini tem montes de bom aspecto! (até tenho medo de exclamar)
ps#3: Ana, o teu gato é zarolhó-estrábico

eu sei que ando 1 bocado assim como que pró obcecado com esta coisa do Mu & dos triplos saltos mortais mas não há nada a fazer... desculpem lá os meus exaustivos desabafos sobre Mu’s e Kurvas de medos mais os seus excessos de termos técnicos. isto depois passa.


variadíssimas saudações aos do costume
saudações variadíssimas ao João e ngb