Inspira...
A linha
é longa. Dentro das caixas vai pelo movimento que perscruta modos possíveis de
habitar o espaço contido. Prolonga-se por planos impressos de trabalho minucioso
que se recolhem sobre si mesmos, por método, por acaso, ou por um ajustamento
entre ambos, mas sempre a fundo. Na quietude e na inquietude. A linha insiste,
persiste, resiste. Avança. Refuta a condição de imobilidade que as percepções
emolduradas têm por certa. Vai de encontro à única face transparente e
mostra-se em partes que sugerem haver mais, muito mais do seu extenso corpo que
se tornou segredo para a vista...
O que
podemos saber das raízes da árvore quando olhamos a copa?
Aparecem
as formigas. Aparição insólita ou transmutação da linha em pequenos pontos e
traços desiguais que afirma a sua liberdade de ser qualquer outra coisa quando
quer. Como acontece na verdade da brincadeira de uma criança.
Inspira
ainda...
As
caixas tornam-se transparentes e dentro delas a linha integra pequenas
arquitecturas de silêncio. Por modos rectilíneos estende-se ao longo da
densidade morna do feltro. Oculta-se por entre a potência dos espaços concentrados.
Afirma-se sobre os relevos dançados pela claridade sendo apenas visível à tona
da última volta. Como por mistério, a recta torna-se curva sem deixar de ser
recta. Talvez porque acompanha a geografia do que a suporta...
O que
podemos saber da luz no deserto quando olhamos as dunas?
Expira devagar...
A linha
discorre agora planamente. Por entre a evidência do princípio e do fim joga-se à
relação com a profundidade. Imprime-se sobre a transparência tomando direcções
determinantes. Os planos dos vários trajectos sobrepostos são ávidos da brisa que
balança as distâncias e as aproximações. Estabelecem-se relações que duram
entre o gesto que as fixa e o gesto que as solta. Conscientes e precisos. Composições
irrepetíveis que o olhar busca em travessia descobrindo que do visível ao
invisível acontece o que o movimento do corpo suscita, mesmo se mínimo. Olhamos.
Simultaneamente perto e longe está o mar...
O que
podemos saber da contiguidade entre a água e o ar quando olhamos o horizonte?
Expira
tudo...
Suspensão.
A linha ergue-se ao sol. Propaga-se em percursos de uma escrita inaugural sobre
planos diáfanos. Porventura trechos de canções matinais com sonoridades
contidas nas entrelinhas dos tracejados a prumo. O som da luz a passar. Em
total evidência a linha acontece como franca declaração. Todos os circundantes pontos
de vista sobre si integram o sentido de como na aparente repetição fluí
continuamente o recomeço...
O que
podemos saber da alpinista desconhecida quando olhamos a montanha que subiu?
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