6.4.22

Inspira...

 

A linha é longa. Dentro das caixas vai pelo movimento que perscruta modos possíveis de habitar o espaço contido. Prolonga-se por planos impressos de trabalho minucioso que se recolhem sobre si mesmos, por método, por acaso, ou por um ajustamento entre ambos, mas sempre a fundo. Na quietude e na inquietude. A linha insiste, persiste, resiste. Avança. Refuta a condição de imobilidade que as percepções emolduradas têm por certa. Vai de encontro à única face transparente e mostra-se em partes que sugerem haver mais, muito mais do seu extenso corpo que se tornou segredo para a vista...

O que podemos saber das raízes da árvore quando olhamos a copa?

                                                                    

Aparecem as formigas. Aparição insólita ou transmutação da linha em pequenos pontos e traços desiguais que afirma a sua liberdade de ser qualquer outra coisa quando quer. Como acontece na verdade da brincadeira de uma criança.

 

 

Inspira ainda...

 

As caixas tornam-se transparentes e dentro delas a linha integra pequenas arquitecturas de silêncio. Por modos rectilíneos estende-se ao longo da densidade morna do feltro. Oculta-se por entre a potência dos espaços concentrados. Afirma-se sobre os relevos dançados pela claridade sendo apenas visível à tona da última volta. Como por mistério, a recta torna-se curva sem deixar de ser recta. Talvez porque acompanha a geografia do que a suporta...

O que podemos saber da luz no deserto quando olhamos as dunas? 

 

 

Expira devagar...

 

A linha discorre agora planamente. Por entre a evidência do princípio e do fim joga-se à relação com a profundidade. Imprime-se sobre a transparência tomando direcções determinantes. Os planos dos vários trajectos sobrepostos são ávidos da brisa que balança as distâncias e as aproximações. Estabelecem-se relações que duram entre o gesto que as fixa e o gesto que as solta. Conscientes e precisos. Composições irrepetíveis que o olhar busca em travessia descobrindo que do visível ao invisível acontece o que o movimento do corpo suscita, mesmo se mínimo. Olhamos. Simultaneamente perto e longe está o mar...

O que podemos saber da contiguidade entre a água e o ar quando olhamos o horizonte?

 

 

Expira tudo...

 

Suspensão. A linha ergue-se ao sol. Propaga-se em percursos de uma escrita inaugural sobre planos diáfanos. Porventura trechos de canções matinais com sonoridades contidas nas entrelinhas dos tracejados a prumo. O som da luz a passar. Em total evidência a linha acontece como franca declaração. Todos os circundantes pontos de vista sobre si integram o sentido de como na aparente repetição fluí continuamente o recomeço...

O que podemos saber da alpinista desconhecida quando olhamos a montanha que subiu?



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